quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Canto do Piaga II

 
A apologia ao crime, pratica constante da mídia, regiamente paga por seus patrocinadores no Brasil e porque não, no mundo, mostrou a mim a contemporaneidade de um mais que centenário poema brasileiro, em janeiro de 2011 eu o postei neste blog mas não suportei a tentação e posto-o novamente

Quem vê os dias em que vivemos, aqui no Brasil, fica sem saber se existe algum futuro decente (nos padrões de moral e ética) para a nação e o povo brasileiro.

Pensando bem...

Se fosse só aqui, certamente ainda haveria algum futuro para o famoso bípede implume.

A Escola de Atenas (1510-1511) (ital La Scuola di Atene) é um afresco do pintor Rafael, na Stanza della Segnatura do Vaticano, para o Papa Julius II anfertigte.
A imagem é parte de um ciclo, que fica ao lado da "Escola de Atenas", o "Parnassus", a "disputa" No centro estão os filósofos Platão e Aristóteles.

Olha só como o governo brasileiro emprega com maestria o antigo conceito de Sofisma:

Transformou as manifestações públicas legítimas ocorridas em território brasileiro, em um fantástico espetáculo de vandalismo digno de um premio da academia de cinema para o ano de 2013.

A ênfase das reportagens não foi para as revindicações públicas, mas sim para os atos de vandalismos isolados que ocorreram em meio ao anonimato da multidão honesta e decente, que protestava contra as pilantragens e falcatruas perpetradas e a serem perpetradas com a cumplicidade do governo brasileiro.
foto-folha-press avenida paulista

Quem viu e vê estes dias pelos olhos da mídia brasileira não vê um clamor popular contra atitudes e posturas de um governo, mas sim uma ação policial patrocinada pelo estado para proteger a coisa pública e o público de vândalos, “terroristas comedores de crianças” estrategicamente localizados e organizados.

Eu já não ouvi esta expressão?
Saturne, dévorant un de ses enfants. - Simon Hurtrelle, 1699, Le Louvre

Se não me engano ela foi dita quando ainda havia um muro no meio da cidade de Berlim, ou teria sido um pouco antes deste muro e do assassinato de Nikolái Alieksándrovich Románov e toda a sua família.

A orquestradíssima ação “vandalistica” perpetrada contra a integridade do povo brasileiro deu certo e gerou os resultados esperados, só para começar os que foram presos estavam “muito doidão” e nem sabiam o que estavam fazendo ali.

Enquanto isso, graças ao sofisma empregado pela mídia brasileira, as manifestações honestas e pacíficas, na realidade prática do nosso dia a dia, acabou virando história e o pior, história esta, contada e escrita não pela massa protagonista dos fatos mas sim, pelos “impostos” prepostos (perdoem-me duplo trocadilho), pelos seus incontáveis pelegos juramentada e por fim, por seus simpatizantes (gratuitos ou não) sacramentada em uma verdade indiscutível.


O resultado final desta trama diabólica é a transformação de uma massa, que naquele momento histórico do Brasil era um povo pleiteante em penas uma massa de manobra atemporal, um fenômeno social, didática, nada mais.

Se querem ver, ou melhor ler, uma previsão ou uma profecia mesmo, com cem por cento de probabilidades de ocorrer conforme o atual andar desta carruagem chamada Brasil, eu vou lhes passar uma em transcrição na sequencia ao próximo parágrafo.

A sua primeira publicação foi feita em 1846 no rio de Janeiro por Eduardo e Henrique Laemmert, rua da Quitanda nº 77, sob o título de Primeiros Cantos, como podem ver não estou contando nada que seja uma novidade em terras brasileiras.

Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), poeta brasileiro.
Biblioteca Nacional de Portugal: http://purl.pt/6376
Retratos de portugueses do século XIX (1859-1865)
por Joaquim Pedro de Sousa (1818-1878)




O Canto do Piaga

Gonçalves Dias – Antologia

Cia Editora Melhoramentos de São Paulo – 1966
Páginas 45, 46 e 47



I

Ó Guerreiros da Taba sagrada,
Ó Guerreiros da Tribo Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.

Esta noite – era a lua já morta –
Anhangá me vedava sonhar;
Eis na horrível caverna que habito,
Rouca voz começou-me a chamar.

Abro som olhos, inquieto, medroso,
Manitos! Que prodígio que vi!
Arde o pau de resina fumosa,
Não fui eu, não fui eu, que o acendi!

Eis rebenta aos meus pés um fantasma,
Um fantasma d' imensa extensão;
Liso crânio repousa ao meu lado,
Feia cobra se enrosca no chão.

Meu sangue gelou-se nas veias,
Todo inteiro – ossos, carne – tremi,
Frio horror me ecoou pelos membros,
Frio vento no rosto senti.

Era feio, medonho, tremendo,
Ó Guerreiros, o espectro que vi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi!


II

Porque dormes, ó Piaga divino?
Começou-me a visão a falar,
Porque dormes? O sacro instrumento
De per si já começa a vibrar.

Tu não vistes nos céus um negrume
Toda a face do sol se ofuscar;
Não ouviste a coruja, de dia,
Seus estridulosos torva soltar?

Tu não viste dos bosques a coma
Sem aragem – vergar-se e gemer
Nem a lua de fogo entre nuvens
Qual em vestes de sangue, nascer?

E tu dormes, ó Piaga divino!
E Anhangá de proíbe sonhar!
E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E não podes augúrios cantar?!

Ouve o anúncio do horrendo fantasma,
Ouve os sons do fiel Maracá;
Manitos já fugiram da Taba!
Ó desgraça! ó ruína! ó Tupá!


III

Pelas ondas do mar sem limites
Basta selva, sem folhas, i vem;
Hartos troncos, robustos, gigantes;
Vossas matas tais monstros contém.

Traz embira dos cimos pendentes
Brenha espessa de vário cipó –
Dessas brenhas contém vossas matas,
Tais e quais, mas com folhas; é só!

Negro monstro os sustenta por baixo,
Brancas asas abrindo ao tufão,
Como um bando de cândidas garças,
Que nos ares pairando – lá vão.

Ó! quem foi das entranhas das águas,
O marinho arcabouço arrancar?
Nossas terras demanda, fareja...
Esse monstro... – o que vem cá buscar?

Não sabeis o que o monstro procura?
Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos Guerreiros,
vem roubar-vos a filha, a mulher!

Vem trazer-vos crueza, impiedade –
Dons cruéis do cruel Anhangá;
Vem quebrar-vos a massa valente;
Profanar Manitos, maracás.

Vem trazer-vos algemas pesadas,
Com que a tribo Tupi vai gemer;
Hão de os velhos servirem de escravos,
Mesmo o Piaga inda escravo a de ser!

Fugireis procurando um asilo,
Triste asilo por ínvio sertão;
Anhangá de prazer há de rir-se,
Vendo os vosso quão poucos serão.

Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,
Susta as iras do fero Anhangá.
Manitos já fugiram da Taba!
Ó desgraça! ó ruína! ó Tupá!



Na minha revista (www.mkmouse.com.br) de Setembro de 2013 eu coloco em minha biblioteca virtual a publicação de 1846 dos Primeiros cantos de Antônio Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá (a 14 léguas de Caxias).

Morreu aos 41 anos (3 de novembro de 1864) em um naufrágio do navio Ville Bologna, próximo à região do baixo de Atins, na baía de Cumã, município de Guimarães.

Advogado de formação, é mais conhecido como poeta e etnógrafo, sendo relevante também para o teatro brasileiro, tendo escrito quatro peças.

Teve também atuação importante como jornalista.


Fontes:-




São Paulo, SP, 20 de Agosto de 2013

Mkmouse


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